17 de junho de 2012

Chuva.

És como a chuva.
Quando ela chega, muitas vezes sem que a esperemos ou estejamos sequer preparados para a enfrentar, não há muito que possamos fazer, senão sujeitarmo-nos à sua acção, tenha ela a forma que tiver.

A maior parte das vezes, não a suportamos. A presença dela é um incómodo, uma certeza de que vamos levar uma tareia de desconforto. A quantidade e força com que surge não é proporcional às nódoas que nos vai deixar. Quando é mais súbtil, "fraca" e imperceptível é quando mais nos irrita. Quantas vezes nos vemos debaixo de uma chuva infantil - que não tem coragem de se mostrar, que parece ser invadida por uma timidez que não a deixa gritar com a garra que a natureza lhe dá - e quase choramos, de tanto que ela nos faz sentir que o mundo acordou contra nós?

É inconcebível, este efeito que a chuva - aquela que cheira exactamente como nos lembramos, desde a última vez - tem sobre o nosso estado de espírito.

Inconcebível, porque, afinal,  não se trata de outra coisa, senão uma manifestação da natureza e do ciclo que é a vida no seu todo. Inconcebível, sim, mas não confuso. É um facto que nos apanha de surpresa, que se infiltra em todos os poros do nosso corpo e que nos acompanha - para todo o lado - a menos que nos escondemos dela. Como poderia não nos irritar?

Mas depois há outra realidade: aquela em que a chuva é mágica. Não há como explicar, a vontade incontrolável que vem de lugar nenhum e nos grita ao ouvido que temos de correr lá para fora, rodar sobre nós mesmo com os braços bem abertos, deixar os pés descalços, a cabeça virada para o céu - tanto quanto a nossa fisionomia permitir - e sorrir (em câmara lenta, se assim o desejarmos). Essa vontade diz-nos que podemos deixar que a chuva nos bata, nos incomode. Garante-nos que aquilo que sentimos, ali, naquele "desconforto", é felicidade na sua forma mais pura e simples.

Inconcebível. Confuso.
Afinal, que ser és tu, chuva, que tens o poder de me levar a extremos? Que criatura és - em todas as formas que assumes - que me tens como um brinquedo, que manipulas conforme te apetece?
A ti, chuva, peço-te que pares. Não digo que desapareças, porque aquela felicidade de te ter com os pés descalços é insubstituível. Mas pára. Não venhas sem avisar - ou vem - mas quando vieres, não tragas só o que de ti me irrita. Até podes vir súbtil, "fraca" e imperceptível, mas traz aquela energia que me preenche. Dá-me, por favor, aquela vontade que me grita ao ouvido que tenho de correr lá para fora.
Eu ouço-a sempre, não temas. Só não venhas sem ela.