24 de janeiro de 2010

Anda comigo

'Anda comigo ver os aviões, levantar voo a rasgar as nuvens... Rasgar o céu.'
Anda comigo para o meu jardim. Podemos ficar sentados na relva por cortar, calados, nem precisamos de trocar olhares! Ou então podemos correr e eu salto para o teu colo (mesmo sabendo que o mais provável é que caiamos os dois).
Anda comigo para o meu jardim, aproveitar o sol da manhã e o cheirinho dos campos de trigo. Podemos mexer nas folhas secas (ou no cabelo um do outro). Podemos cantar músicas de amor ou, se preferires, aquelas mais barulhentas que me ensinaste a gostar.
Anda comigo para o meu jardim e vamos ficar uma eternidade a olhar para os nossos pés, descalços e entrelaçados (como a nossa alma). Vamos ficar no meu jardim, tão imenso como o céu e as nuvens. Vamos ficar os dois. Hoje, pelo menos hoje. Amanhã podes fugir do nosso paraíso. Mas hoje... Hoje vem comigo e traz o carinho que sempre guardaste (só para mim).

15 de janeiro de 2010

Resta-nos a cumplicidade do olhar

Hoje, continuo sentada no mesmo sofá que há 2 dias atrás. Aliás, faz uma semana (talvez até faça mais do que isso!) que não saio deste sofá. Aqui faz-se de tudo: ouve-se 'fon fon fon', canta-se a vozes, discutem-se dores de barriga ou dores de coração, dão-se gargalhadas (e, não querendo quebrar o equilíbrio, também se dispensam uns minutinhos para as lágrimas!). Há tempo para tudo (menos para o que é preciso). A sensação que nos dá (a mim e às minhas companheiras de aventura) é que o mundo se faz aqui dentro e, lá fora, só o vento é que corre, sozinho, abandonado pelo tempo, que se fechou connosco.

Neste lugar, quente, transpirado, com um cheiro intenso que resultou do nosso respirar apressado, o tempo, ao contrário do que acontece lá fora, foge-nos das mãos e, num instante, a frescura das nove da manhã transforma-se em estupidez de meia noite.
De vez em quando surge uma cara nova, alegre, que traz consigo balões de arco-íris e nos ilumina a aura. Mas essa pessoa acaba por sair, levando consigo o que sobra de toda a cor que trazia.

A nós, fervorosas adeptas da força da vontade, resta-nos o silêncio, a cumplicidade do olhar.
E que felizes somos com ela.

13 de janeiro de 2010

Palavras soltas

Estou numa rua estreita e comprida. O chão é feito de paralelos velhos, desgastados pelo tempo e pelo uso; são paralelos tão calcados e vividos que a maioria deles já não tem lugar na calçada.
Se não fosse o vento forte, quente, seco, a correr à minha frente, e a intensidade do sol de meio dia a desenhar pintinhas pretas que flutuam na paisagem, eu até me sentiria confortável. A minha vontade diz-me que eu devia deitar-me e partilhar o meu cansaço com todas estas pedras, contar-lhes o meu sufoco. Se não fosse o sol de meio dia, e o vento seco, talvez o fizesse. Desejei encontrar uma sombra, ou uma brisa onde pudesse deixar-me cair e falar, falar. Só encontrei uma folha branca, e um lápis partido com a ponta mal afiada. Pensei: "Nada melhor!"
Não é que me falte a alma, ou a literacia.
Sinto as palavras confusas; a tentarem, desesperadamente, fugir da prisão em que as guardo. Sinto-as cansadas, como se não aguentassem mais viver no meio de tanta tralha e tantas histórias ilegíveis. Correm, gritam, (Vivem numa negra euforia) combatem-se, lutam pelo seu lugar na liderança deste imaginário sombrio. E quando uma supera todas as outras, não tardam os movimentos revolucionários que se mostram descontentes e certos do seu direito de implementar os seus valores. A minha cabeça é um campo de batalhas - não diria sangrentas - mas um campo de fervorosas batalhas entre ideologias de extremos opostos altamente poderosos e manipuladores.
Não escrevi aquela folha para ninguém. Para mim, (talvez).

Uma palavra, outra palavra... Se pelo menos elas fizessem sentido.